Esperança é algo que já não tenho mais. Voou do varal numa noite qualquer. O mesmo varal onde pendurei minha fé. Voou também. Nem vi. Venta muito por aqui. Nada fica firme por muito tempo. As roupas não secam, somem. Voam sei lá pra onde. Já não sei o que vestir quando me convidam. Por isso nunca aceito. Fico em casa com satisfação. Vou até o quintal e aproveito o tempo para estender fotos, passados, sonhos. Tudo no mesmo varal. Só pra tirar o mofo, tomar um ar. Mas sempre voam. Voam sei lá pra onde. E eu vou perdendo as peças da minha história. Uma por uma. Tudo que eu amo desaparece. Do quintal da minha casa, nem dá pra ver o seu. Mas imagino que lá no fundo, num cantinho, também tenha um varal. O seu varal. Onde não venta. E devem estar pendurados: meu sorriso, minhas certezas, minha fé. Quem sabe um dia bate um vento e, de tão forte, te faça trazer tudo de volta o que sempre foi meu. E falta. No meu quintal. O tempo voa enquanto espero. Estendo a vida num varal. Esperança já não há. Voou sei lá pra onde. Nada fica firme por muito tempo. E venta muito por aqui.
(Maíra Viana- O Varal)
Esperando Esperança...
Quantas vezes mais terei que retocar a maquiagem até você chegar? Ás vezes eu olho embaixo da cama, atrás do armário, dentro da geladeira, nas gavetas da sala, quem sabe eu te encontro, no lugar certo, só pra ser mais feliz, bem assim por acaso...
Quantas vezes mais as estrelas cadentes vão me virar a cara negando um pedido? Às vezes eu rezo, acendo uma vela, faço uma prece, jogo minha fé pela janela, depois me arrependo, vou lá, pego de volta, toda molhada, estendo no varal, vento que seca, tempo que passa, e você, nada...
Quantas vezes mais vou duvidar da sua existência? Será que estás o tempo todo aqui, como um fantasma, a me acompanhar, sem que eu perceba, na minha cegueira, tua presença invisível, espalhada pela sala, espírito zombeteiro, acenando pra mim, e eu, nada...
Quantas vezes mais você vai gritar mesmo sabendo que eu não posso te ouvir? Canta uma música, gesticula, faz mímica, tenta qualquer coisa, eu preciso te ver, não desiste de mim, fica um pouco mais, toma um gole de café, puxa uma cadeira, olha umas fotos, acende um cigarro...
Quantas vezes mais terei que me desfazer para te encontrar? Eu ando pela casa, troco os moveis de lugar, mudo a cor do cabelo, jogo as fotos pela janela, depois me arrependo, vou lá, pego todas de volta, estendo no varal, amareladas, tempo que mancha, vento que passa, e você, quase posso te ver, em cada uma delas: perto de mim fazendo careta, sorrindo atrás de uma árvore, correndo por entre nuvens num dia de sol....
Quantas vezes mais terei que lembrar a mim mesma onde foi que eu guardei a minha felicidade? Às vezes eu assobio enquanto penduro a fé no varal, me olho no espelho enquanto você se esconde do tempo num porta-retrato, cativo o prazer dessa incessante busca, fecho os olhos aos acenos e continuo procurando, nos lugares errados, só pra ser mais infeliz, bem assim por acaso...
( Esperando Esperança- Maíra Viana)
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